GLOBALISMO, GLOBALIDADE OU GLOBALIZAÇÃO?

O que globalizou foi o fenômino do Estado-Nação. Agora tem Estado Nacional para todos os lados. No início do século XX, eram 60 países, no máximo. Agora tem 200 Estados. O capital, quanto mais fortalece e expande, mais fica nacionalista.

(José Luis Fiori)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Parte II - Etapa 3 e) Críticas feitas ao processo de globalização segundo Stiglitz e Santos

1º Crítica

O processo de globalização para Stiglitz não é boa nem má, contudo, alguns países em determinado momento podem ser mais beneficiados pela globalização, mas outros nem tanto, e com isso ele frisa que

Ela tem o poder de fazer um enorme bem e, para os países do Leste Asiático que aderiram à globalização em seus próprios termos, dentro do seu próprio ritmo, ela tem representado um grande benefício [...]. Mas em muitas partes do mundo, não trouxe benefícios comparáveis. Para muitos, a globalização assemelha-se mais a um desastre iminente (STIGLITZ, 2002, p. 48, grifo do texto).

Já o Milton Santos argumenta que todo o processo de globalização, inovação tecnológica e científica veio ara revolucionar o mundo, e com isso a ganância das empresas transnacionais, porque são elas que obtêm os maiores lucros e benefícios da globalização. Percebe-se ânsia destas por melhores e maiores mercados e com isso concorre com outros atores econômicos pela fatia do mercado mundial.

O que se pode perceber, no entanto, é que tanto Stiglitz quanto Santos não vêem o processo de globalização como algo ruim, e com isso a esperança de um mundo melhor perdida, ao contrário, reconhecem os seus benefícios e acreditam que se forem melhor geridos/administrados pelas instituições internacionais/governos/ e outros atores da sociedade, e principalmente para Santos as questões sociais serem levadas mais a sério, com certeza poderá haver uma efetiva melhora.


"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.
 
Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.



 2º Crítica

Em relação aos aspectos econômicos da globalização, Milton Santos critica a forma como tal fenômeno impõe formas de gestão da economia dos países. O Consenso de Washington foi uma forma de ditar aos países latino-americanos as diretrizes a serem seguidas para que voltassem a crescer e a se desenvolver. No entanto, tais países não conseguiram alcançar o resultado almejado. A China (país que manteve autonomia na gestão de sua política econômica) conseguiu alcançar altos índices de crescimento e desenvolvimento.

Essa visão é compartilhada por Stiglitz quando apresenta o caso da Rússia, país esse que procurou se inserir na economia de mercado após o fim do comunismo, mas que também não obteve os resultados a que vislumbrava. Segundo o autor (STIGLITZ, 2002, p. 32), os países socialistas que adotaram a economia de mercado foram influenciados pelo ocidente de que aquela era única forma de se alcançar a prosperidade. O resultado foi o recrudescimento dos índices de pobreza.

Os países que seguiram a cartilha do Consenso de Washington na América Latina tiveram, em sua maioria, um enfraquecimento de suas estruturas econômicas. A abertura dos mercados por meio da eliminação das restrições ao capital externo beneficiou várias corporações financeiras do ocidente, no entanto, quando o capital aportado encontrou lugares mais vantajosos para investir, os países tiveram que arcar com os prejuízos em suas já combalidas economias (STIGLITZ, 2002, p.34). O autor argumenta que não há prova que demonstre que a liberalização de mercados pode estimular o crescimento econômico (STIGLITZ, 2002, p.43).
 
 
"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.

Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.




 3º Crítica

O processo de globalização dá uma idéia de falsa aldeia global, de um mundo sem fronteiras segundo Milton Santos, pois o global fica restrito a um pequeno grupo de atores (bancos, financeiras, transnacionais, organizações internacionais, Estados ricos e poderosos) que estabelecem as suas normas e/ou diretrizes que vão regular o sistema internacional. Na verdade o que se vê é que grandes grupos de multinacionais e agentes financeiros que captam e concentram os benefícios econômicos e financeiros, sem a menor preocupação em gerar renda, empregos, ou ainda a diminuir a fome no mundo. De acordo ainda com Santos a globalização não é homogênea, não atinge todos os seus benefícios, mas a globalização também pode representar vantagens para muitos países, gerando riquezas, gerando empregos, melhorando a renda, o que infelizmente ainda não está ocorrendo, devido, sobretudo a ânsia desenfreada pelo lucro, sem levar em conta o aspecto social.

Stiglitz diz ainda que o processo de globalização não pode ocorrer de forma igual para todos os Estados, pois cada um teve ou tem um processo interno diferente, deve-se respeitar os limites de cada país, e isso bate de frente com as políticas “salvacionistas” de alguns organismos internacionais, como por exemplo o FMI. De fato, às vezes, ou melhor, muitas vezes esta instituição não conseguia auxiliar o país que estava com desequilíbrio no seu balanço de pagamentos, ou ainda quando davam conselhos para que estes abrissem os seus mercados causava ainda mais crises, pois nem conheciam bem aos Estados que destinavam ajuda. Stiglitz (2002, p.42) diz ainda que “E quando um país assava por uma crise, os recursos e os programas do FMI não só não conseguiam estabilizar a situação como também, em muitos casos, chegavam até mesmo a piorar o quadro, principalmente para as populações carentes”.

Portanto, a idéia de globalização tanto para Santos quanto para Stiglitz está ligada ao fato de que uma reforma na forma de pensar das instituições como também, o melhor aproveitamento da tecnologia em benefício dos menos favorecidos, a melhor gerência dos recursos mundiais podem construir de fato um mundo mais justo.

"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.

Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.




 4º Crítica

O papel da democracia no processo de globalização é apresentado tanto no documentário de Milton Santos quanto no texto de Stiglitz como tendo sua importância reduzida frente aos efeitos da globalização. Milton Santos afirma que “as formas tradicionais de democracia já não convencem mais os pobres. Para muitos, a ação direta nas ruas é o meio de se fazer ouvir”. O depoimento de José Saramago sobre o significado da democracia na atualidade vem ao encontro da opinião de Santos. Para ele, não o que se falar em democracia quando as grandes decisões são tomadas em uma esfera externa aos países, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e as grandes organizações financeiras internacionais. Além disso, não há democracia em tais organismos, visto que aqueles que as comandam (quem realmente governa o mundo) não são eleitos pelo povo.

Stiglist (2002, p. 46) aponta um outro aspecto do papel da democracia nas grandes organizações internacionais. Além de ter representantes que não foram eleitos pelo povo, “as instituições são controladas não só pelos países industrializados mais ricos do mundo, mas também pelos interesses comerciais e financeiros desses países: as políticas das instituições refletem isso. Pode se perceber com a apresentação desses excertos que a globalização fez com que a democracia tivesse seu significado alterado, à medida que ela pode até existir no plano doméstico, mas as diretrizes que um país segue em sua política interna sofrem os efeitos de organismos cujos líderes foram escolhidos sem a possibilidade de participação do povo e de acordo com os interesses dos países mais ricos.


"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.
Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.











3 comentários: