GLOBALISMO, GLOBALIDADE OU GLOBALIZAÇÃO?

O que globalizou foi o fenômino do Estado-Nação. Agora tem Estado Nacional para todos os lados. No início do século XX, eram 60 países, no máximo. Agora tem 200 Estados. O capital, quanto mais fortalece e expande, mais fica nacionalista.

(José Luis Fiori)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Parte II - Etapa 3 a) b) Principais reflexões de Joseph Stiglitz

Segundo Stiglitz (2002, p.30-32) a globalização trouxe vários benefícios para as populações ao redor do mundo, desde o crescimento econômico devido, sobretudo a abertura/liberalização do comércio e dos mercados, passando pelo aumento da expectativa de vida dos povos que foi aumentada até a redução das distâncias/isolamento entre as pessoas e países. No entanto, a globalização também fez aumentar a distância entre ricos e pobres, ou seja, o número de miseráveis no planeta, principalmente em regiões africanas aumentou significativamente.


Na verdade em diversos lugares do mundo o processo da globalização não foi homogêneo nem tão pouco vencedor, muito pelo contrário, como afirma Stiglitz (2002, p.32), pois

Se a globalização não logrou êxito em reduzir a pobreza, também não teve sucesso em garantir a estabilidade [...] A globalização e a introdução de uma economia de mercado não geraram os resultados prometidos na Rússia nem na maior parte das outras economias que fizeram a transição do comunismo para o capitalismo.

Quem lucra com todo este processo de globalização são as economias ricas, pois uma vez alcançado o patamar de industrialização avançado podem dar-se ao luxo de impor agora dificuldades para abrir os seus mercados para os Estados menos desenvolvidos (STIGLITZ, 2002, p.33). De outro modo, a questão que mais é debatida pelo autor é justamente a capacidade das instituições internacionais de responder com eficiência a este processo e a percepção é a de que estas deixam a desejar no desempenho deste papel.

As instituições do Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial são utilizadas pelo autor para embasar os seus argumentos, no caso por terem desempenhado ao longo dos anos papel relevante no cenário econômico/financeiro internacional. Stiglitz é um crítico destas instituições, mais precisamente do FMI, pois os Estados que precisaram deste pagaram um preço muito caro por isso, como a imposição de condicionalidades que muitas vezes era penoso para os mesmos.

Tais instituições criadas na cidade de Bretton Woods no pós Segunda Guerra Mundial sofreram durante a década de1980 uma mudança de pensamento, como salienta Stiglitz (2002, p.36) “A mudança mais drástica nessas instituições ocorreu na década de 1980, época em que Ronald Reagan e Margaret Thatcher pregavam uma ideologia de livre mercado nos Estados Unidos e no Reino Unido. O FMI e o Banco Mundial tornaram-se as novas instituições missionárias, por meio das quais essas idéias era impostas aos relutantes países pobres que, via de regra, precisavam muito de seus empréstimos e concessões”.


Estas instituições falharam no sentido de que não souberam lidar e/ou resolver os problemas enfrentados pelos Estados em desenvolvimento, pior ainda ao intervirem dentro destes quiseram e conseguiram em particular o FMI, impor certas medidas econômicas que acabaram por desestruturar ainda mais o país que necessitava de ajuda.

Um fato em particular que aconteceu em especial na América Latina impondo regras/normas foi o Consenso de Washington, no qual os Estados Unidos, o FMI e o Banco Mundial juntaram-se afim de “ajustar as economias latino-americanas”, sem nem ao menos perguntar se estes países estavam preparados ou ainda se queriam aceitar a “ajuda” destes.

Outro ponto levantado por Stiglitz é que as instituições servem aos interesses dos poderosos, dos mais ricos, dos governos dos Estados desenvolvidos, mas também dos grupos de interesses inerentes a estes, ou seja, “As instituições são controladas não só pelos países industrializados mais ricos do mundo, mas também pelos interesses comerciais e financeiros desses países; as políticas das instituições refletem isso. A seleção das instituições simboliza o problema destas e, muitas vezes, contribui para sua disfunção” (STIGLITZ, 2002, p.46). O autor vai além e diz que o momento atual é de uma governança global sem governo global, no qual algumas instituições dominam o sistema internacional, no caso FMI, Banco Mundial e OMC, e seus respectivos grupos de interesses (STIGLITZ, 2002, p.49).

Questão ainda discutida pelo autor são as condicionalidades que o FMI impunha aos países que necessitassem de sua ajuda, uma de suas desculpas era a de que deveria se ter garantias de que os Estados de fato cumprissem as metas estabelecidas pelo próprio fundo e que aplicassem o dinheiro de forma eficaz.Contudo, “Estudos feitos no Banco Mundial e em outras instituições mostraram não só que a condicional idade não garantia que o dinheiro seria gasto de maneira adequada e que os países cresceriam mais rapidamente, como também que havia pouca evidência de que funcionasse” (STIGLITZ, 2002, p.76).

Por fim, a idéia que fica é a de que os próprios países podem e devem eles mesmos promover as suas reformas políticas/econômicas e mesmo que conte com ajuda externa, no caso o de organismos internacionais que estes possam ter a sensibilidade de procurar saber/conhecer ao país ao qual pretende ajudar, sem medidas gerais para todos os países, pois cada país é único, o que é bom para um Estado, pode não ser tão bom para outro Estado. E Stiglitz (2002, p.79) adverte sobre isso, no tocante principalmente ao FMI, “Há pelo menos duas razões pelas quais o FMI deveria trocar idéias extensamente dentro de um país ao preparar suas avaliações e projetar seus programas. Os habitantes do país provavelmente sabem mais sobre a economia dele que os funcionários do Fundo...”.

Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.

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