O vídeo “Encontro com Milton Santos” do ano de 2007 é uma crítica ao processo de globalização e seus efeitos. As principais idéias apresentadas refletem uma ênfase nos malefícios de tal processo. Para aqueles que julgam que a forma como o mundo se apresenta não é verdadeira, existem pelo menos três mundos em um só. O mundo da forma como no fazem vê-lo, ou seja, a globalização como fábula. O mundo da forma que ele realmente é, ou seja, globalização como perversidade e o mundo como poderia ser, uma outra globalização.
Uma das críticas apresentadas refere-se ao Consenso de Washington. Descreve como sendo uma reunião organizada pelo instituto internacional de economia em Washington no ano de 1989 que propunha uma série de reformas para que os países da América Latina voltassem a crescer e a se desenvolver. Essas medidas envolviam austeridade fiscal, elevação de impostos, juros altos para atrair investimentos estrangeiros e privatizações. Como o vídeo menciona, tais medidas sugeriam que os Estados eram incapazes de se auto-sustentar e era o setor privado que possuía boa administração. O Consenso de Washington produziu efeitos desastrosos nos países que os seguiram na América Latina.
O movimento indígena se revoltou contra o programa de privatizações e extinção de empresas estatais no Equador. Já na Bolívia em 2000, o governo se sentiu pressionado pelo Banco Mundial e FMI e privatizou a água potável na região de Cochabamba. O povo respondeu com rebeliões que obrigaram o governo a rever a privatização.
Na Argentina, as privatizações e a abertura da economia levaram a uma onda de falências no país. Fábricas foram fechadas, empreendimentos abandonados e trabalhadores se transformaram em catadores de papel.
Para o economista Joseph Stiglitz (prêmio Nobel de economia e economista chefe do banco Mundial entre 1997 e 2000), o receituário do Consenso de Washington não provém de uma análise econômica e sim de uma postura ideológica. Acrescenta que os países que o seguiram não alcançaram o resultado que esperavam, no entanto, os que fizeram o contrário, como a China, viram suas economias crescerem.
Um dos efeitos maléficos da globalização sãos as empresas multinacionais. Para Milton Santos, elas escapam do controle dos Estados e a distância que acabam alcançando em relação a eles acabando permitindo que tais empresas ajam sem responsabilidade, nem moral, muito menos social. A maior parte da humanidade sente os efeitos da globalização da forma mais perversa por meio do desemprego, aumento da pobreza, falta de moradia, entre outros.
Outro efeito da globalização é a criação das muralhas do capitalismo. Enquanto tais muros permitem a livre circulação de mercadorias, dinheiro e serviços, barram o livre tráfego de indivíduos.
Com relação à mídia, a crítica apresentada se relaciona com a concentração de poder das empresas detentoras de veículos de comunicação, pois apenas seis empresas controlam 90% da mídia mundial. Esse oligopólio faz com que os acontecimentos sejam analisados de acordo com interesses pré-determinados. Grande parte dos economistas que escreve em jornais publica o desejo das empresas das quais são consultores.
Segundo Milton Santos, os atores que vão mudar a história são os de baixo, agindo de baixo para cima, como ocorreu n China.
Outra crítica apresentada por Milton Santos é que “decidimos ser europeus, insistimos em ser europeus, nos recusamos a pensar como nós próprios porque achamos chique pensar como os europeus e os americanos e, por isso, temos uma enorme dificuldade para entender o mundo. Essa dificuldade nos deixa tolos diante da história que está se fazendo”.
A questão da democracia também é tratada. Há a idéia de que as formas tradicionais de democracia já não convencem mais os pobres e muitos consideram que a ação direta nas ruas é o meio de se fazerem ouvir.
Uma das críticas apresentadas ao papel da democracia na globalização é exposta pelo escritor português José Saramago. Segundo ele, discute-se tudo, menos democracia. Continua sendo uma referência, mas já não se espera mudanças por meio dela. Não há a percepção de que a democracia em que se vive é condicionada e amputada em que o poder dos cidadãos se encontra limitado politicamente a tirar e colocar governo de acordo com a preferência. No entanto, as grandes decisões são tomadas em outra esfera de poder (FMI, Banco Mundial, OCDE, OMC, grandes organizações financeiras internacionais.) e nenhum desses organismos apresenta algum grau de democracia. Não se pode falar de democracia se quem realmente tem o poder não é eleito pelo povo.
Por fim, para Milton Santos, o mundo vive uma nova forma de totalitarismo, em que há a exigência de comportamentos padronizados e todo deslize é punido. O mundo espalha a liberdade como o requisito mínimo para a vida, mas ele suprime a verdadeira liberdade. Essa característica do mundo atual alcançará um nível não mais suportável e acabará, como já ocorreu com outras formas de totalitarismo. É a globalização que produz o que ele chama de globalitarismo e este reproduz a globalização. Nas palavras do autor, “esse círculo vicioso precisa ser quebrado através da produção de formas democráticas que sejam realmente democráticas”.
"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.
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