GLOBALISMO, GLOBALIDADE OU GLOBALIZAÇÃO?

O que globalizou foi o fenômino do Estado-Nação. Agora tem Estado Nacional para todos os lados. No início do século XX, eram 60 países, no máximo. Agora tem 200 Estados. O capital, quanto mais fortalece e expande, mais fica nacionalista.

(José Luis Fiori)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Parte II - Etapa 3 f) Clipping de notícias

Diretor da OMC critica desigualdade na globalização e defende Doha

Segundo notícia publicada na Folha On line (2007), Pascal Lamy fez críticas ao processo acelerado da globalização, pois segundo ele “A sua aceleração tem atualmente um efeito mais grave no tecido social que em períodos anteriores”. Também defendeu o ressurgimento da Rodada Doha como forma de reduzir as desigualdades no processo de globalização.

Lamy diz ainda que não só os países em desenvolvimento sofrem, mas também os pises ricos, pois as populações destes Estados, principalmente as mais pobres não conseguem se inserir neste mundo de constantes mudanças, ficando à margem do sistema. Segundo Lamy “É preciso acrescentar estruturas materiais e humanas que funcionem e que criem condições de igualdade, num clima político e social propício”.


Folha on line. Diretor da OMC critica desigualdade na globalização e defende Doha. Disponível em:<           http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u305755.shtml.  >. Acesso em: 13 maio. 2010


A farsa da globalização

O artigo trata das armadilhas da globalização. Os países ricos impõem aos países pobres que pratiquem o livre comércio e abram seus mercados, mas essa é uma armadilha, pois ao mesmo tempo os países ricos fecham seus mercados por meio de barreiras aos produtos oriundos do terceiro mundo. Aponta a OMC como sendo outra armadilha da globalização, especialmente países pobres. Argumenta que quando os países ricos vendem seus produtos a preços mais baratos é porque os países ricos não têm capacidade de baixar custos e alcançar economias de escala. Quando ocorre o contrário, ou seja, quando os países pobres conseguem vender a preços mais baratos, sofrem acusação que estão praticando dumping e são alvos de processos na OMC.

Argumenta que a OMC não é um organismo imparcial, visto que suas decisões são altamente influenciadas pelos interesses de empresas multinacionais e de seus países de origem. Os produtos agrícolas provenientes da União Européia são os que têm o maior percentual de subsídio em todo o mundo, no entanto, nunca houve condenação por parte da OMC.


PEDROSA, Carlos José. A farsa da globalização. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/a-farsa-da-globalizacao/44624/>. Acesso em 14 mai. 2010.




Globalização produz desemprego e tem de mudar, diz OIT

O modelo atual de globalização deve ser reformulado, segundo um estudo organizado pela OIT, há um grande desequilíbrio entre ricos e pobres, no funcionamento da economia mundial, notícia publicada no site da BBC Brasil (2004). O número de desempregados aumentou, a renda diminuiu e a pobreza aumentou progressivamente, contudo, a globalização também trouxe alguns benefícios de acordo com os autores do estudo, dentre eles Joseph Stiglitz.

De acordo com a notícia questões relacionadas a direitos humanos, meio ambiente, democracia, direitos da mulher entre outros ganharam destaque. Desta forma, a globalização é destaca não só por seus efeitos maléficos, mas também ela traz ganhos se bem distribuídos para as populações ao redor do mundo.

  BBC Brasil. Globalização produz desemprego e tem de mudar, diz OIT. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/economia/story/2004/02/040224_globalizacaoms.shtm>. Acesso em: 13 maio. 2010.

 
 
Não havia lugar para eles

O artigo discute a situação que os imigrantes estão enfrentando com o processo de globalização. A era da globalização apresenta várias contradições para imigrantes. Ao mesmo tempo em que desejam buscar melhores oportunidades de vida, elas não estão ao alcance de todos. A globalização fez com que o desemprego, a fome e a miséria aumentassem, ale de ter contribuído para aumentar as desigualdades entre os países do Norte e os do Sul. Os países buscam cada vez mais novas formas de impedir que as pessoas oriundas de países mais pobres entrem em seus territórios.

Segundo o artigo, as políticas repressivas contra a imigração clandestina não são eficientes em evitar esse problema. É necessário que se criem normas internacionais que resguardem os direitos dos imigrantes, visto que o mundo globalizado não tem conseguido lidar com o problema.

  
SCHERER, Odilo P. Não havia lugar para eles. Disponível em: .<http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091212/not_imp480832,0.php>. Acesso em: 15 mai. 2010.





Parte II - Etapa 3 e) Críticas feitas ao processo de globalização segundo Stiglitz e Santos

1º Crítica

O processo de globalização para Stiglitz não é boa nem má, contudo, alguns países em determinado momento podem ser mais beneficiados pela globalização, mas outros nem tanto, e com isso ele frisa que

Ela tem o poder de fazer um enorme bem e, para os países do Leste Asiático que aderiram à globalização em seus próprios termos, dentro do seu próprio ritmo, ela tem representado um grande benefício [...]. Mas em muitas partes do mundo, não trouxe benefícios comparáveis. Para muitos, a globalização assemelha-se mais a um desastre iminente (STIGLITZ, 2002, p. 48, grifo do texto).

Já o Milton Santos argumenta que todo o processo de globalização, inovação tecnológica e científica veio ara revolucionar o mundo, e com isso a ganância das empresas transnacionais, porque são elas que obtêm os maiores lucros e benefícios da globalização. Percebe-se ânsia destas por melhores e maiores mercados e com isso concorre com outros atores econômicos pela fatia do mercado mundial.

O que se pode perceber, no entanto, é que tanto Stiglitz quanto Santos não vêem o processo de globalização como algo ruim, e com isso a esperança de um mundo melhor perdida, ao contrário, reconhecem os seus benefícios e acreditam que se forem melhor geridos/administrados pelas instituições internacionais/governos/ e outros atores da sociedade, e principalmente para Santos as questões sociais serem levadas mais a sério, com certeza poderá haver uma efetiva melhora.


"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.
 
Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.



 2º Crítica

Em relação aos aspectos econômicos da globalização, Milton Santos critica a forma como tal fenômeno impõe formas de gestão da economia dos países. O Consenso de Washington foi uma forma de ditar aos países latino-americanos as diretrizes a serem seguidas para que voltassem a crescer e a se desenvolver. No entanto, tais países não conseguiram alcançar o resultado almejado. A China (país que manteve autonomia na gestão de sua política econômica) conseguiu alcançar altos índices de crescimento e desenvolvimento.

Essa visão é compartilhada por Stiglitz quando apresenta o caso da Rússia, país esse que procurou se inserir na economia de mercado após o fim do comunismo, mas que também não obteve os resultados a que vislumbrava. Segundo o autor (STIGLITZ, 2002, p. 32), os países socialistas que adotaram a economia de mercado foram influenciados pelo ocidente de que aquela era única forma de se alcançar a prosperidade. O resultado foi o recrudescimento dos índices de pobreza.

Os países que seguiram a cartilha do Consenso de Washington na América Latina tiveram, em sua maioria, um enfraquecimento de suas estruturas econômicas. A abertura dos mercados por meio da eliminação das restrições ao capital externo beneficiou várias corporações financeiras do ocidente, no entanto, quando o capital aportado encontrou lugares mais vantajosos para investir, os países tiveram que arcar com os prejuízos em suas já combalidas economias (STIGLITZ, 2002, p.34). O autor argumenta que não há prova que demonstre que a liberalização de mercados pode estimular o crescimento econômico (STIGLITZ, 2002, p.43).
 
 
"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.

Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.




 3º Crítica

O processo de globalização dá uma idéia de falsa aldeia global, de um mundo sem fronteiras segundo Milton Santos, pois o global fica restrito a um pequeno grupo de atores (bancos, financeiras, transnacionais, organizações internacionais, Estados ricos e poderosos) que estabelecem as suas normas e/ou diretrizes que vão regular o sistema internacional. Na verdade o que se vê é que grandes grupos de multinacionais e agentes financeiros que captam e concentram os benefícios econômicos e financeiros, sem a menor preocupação em gerar renda, empregos, ou ainda a diminuir a fome no mundo. De acordo ainda com Santos a globalização não é homogênea, não atinge todos os seus benefícios, mas a globalização também pode representar vantagens para muitos países, gerando riquezas, gerando empregos, melhorando a renda, o que infelizmente ainda não está ocorrendo, devido, sobretudo a ânsia desenfreada pelo lucro, sem levar em conta o aspecto social.

Stiglitz diz ainda que o processo de globalização não pode ocorrer de forma igual para todos os Estados, pois cada um teve ou tem um processo interno diferente, deve-se respeitar os limites de cada país, e isso bate de frente com as políticas “salvacionistas” de alguns organismos internacionais, como por exemplo o FMI. De fato, às vezes, ou melhor, muitas vezes esta instituição não conseguia auxiliar o país que estava com desequilíbrio no seu balanço de pagamentos, ou ainda quando davam conselhos para que estes abrissem os seus mercados causava ainda mais crises, pois nem conheciam bem aos Estados que destinavam ajuda. Stiglitz (2002, p.42) diz ainda que “E quando um país assava por uma crise, os recursos e os programas do FMI não só não conseguiam estabilizar a situação como também, em muitos casos, chegavam até mesmo a piorar o quadro, principalmente para as populações carentes”.

Portanto, a idéia de globalização tanto para Santos quanto para Stiglitz está ligada ao fato de que uma reforma na forma de pensar das instituições como também, o melhor aproveitamento da tecnologia em benefício dos menos favorecidos, a melhor gerência dos recursos mundiais podem construir de fato um mundo mais justo.

"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.

Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.




 4º Crítica

O papel da democracia no processo de globalização é apresentado tanto no documentário de Milton Santos quanto no texto de Stiglitz como tendo sua importância reduzida frente aos efeitos da globalização. Milton Santos afirma que “as formas tradicionais de democracia já não convencem mais os pobres. Para muitos, a ação direta nas ruas é o meio de se fazer ouvir”. O depoimento de José Saramago sobre o significado da democracia na atualidade vem ao encontro da opinião de Santos. Para ele, não o que se falar em democracia quando as grandes decisões são tomadas em uma esfera externa aos países, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e as grandes organizações financeiras internacionais. Além disso, não há democracia em tais organismos, visto que aqueles que as comandam (quem realmente governa o mundo) não são eleitos pelo povo.

Stiglist (2002, p. 46) aponta um outro aspecto do papel da democracia nas grandes organizações internacionais. Além de ter representantes que não foram eleitos pelo povo, “as instituições são controladas não só pelos países industrializados mais ricos do mundo, mas também pelos interesses comerciais e financeiros desses países: as políticas das instituições refletem isso. Pode se perceber com a apresentação desses excertos que a globalização fez com que a democracia tivesse seu significado alterado, à medida que ela pode até existir no plano doméstico, mas as diretrizes que um país segue em sua política interna sofrem os efeitos de organismos cujos líderes foram escolhidos sem a possibilidade de participação do povo e de acordo com os interesses dos países mais ricos.


"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.
Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.











Parte II - Etapa 3 c) d) Principais pontos discutidos por Milton Santos

O vídeo “Encontro com Milton Santos” do ano de 2007 é uma crítica ao processo de globalização e seus efeitos. As principais idéias apresentadas refletem uma ênfase nos malefícios de tal processo. Para aqueles que julgam que a forma como o mundo se apresenta não é verdadeira, existem pelo menos três mundos em um só. O mundo da forma como no fazem vê-lo, ou seja, a globalização como fábula. O mundo da forma que ele realmente é, ou seja, globalização como perversidade e o mundo como poderia ser, uma outra globalização.

Uma das críticas apresentadas refere-se ao Consenso de Washington. Descreve como sendo uma reunião organizada pelo instituto internacional de economia em Washington no ano de 1989 que propunha uma série de reformas para que os países da América Latina voltassem a crescer e a se desenvolver. Essas medidas envolviam austeridade fiscal, elevação de impostos, juros altos para atrair investimentos estrangeiros e privatizações. Como o vídeo menciona, tais medidas sugeriam que os Estados eram incapazes de se auto-sustentar e era o setor privado que possuía boa administração. O Consenso de Washington produziu efeitos desastrosos nos países que os seguiram na América Latina.

O movimento indígena se revoltou contra o programa de privatizações e extinção de empresas estatais no Equador. Já na Bolívia em 2000, o governo se sentiu pressionado pelo Banco Mundial e FMI e privatizou a água potável na região de Cochabamba. O povo respondeu com rebeliões que obrigaram o governo a rever a privatização.

Na Argentina, as privatizações e a abertura da economia levaram a uma onda de falências no país. Fábricas foram fechadas, empreendimentos abandonados e trabalhadores se transformaram em catadores de papel.

Para o economista Joseph Stiglitz (prêmio Nobel de economia e economista chefe do banco Mundial entre 1997 e 2000), o receituário do Consenso de Washington não provém de uma análise econômica e sim de uma postura ideológica. Acrescenta que os países que o seguiram não alcançaram o resultado que esperavam, no entanto, os que fizeram o contrário, como a China, viram suas economias crescerem.

Um dos efeitos maléficos da globalização sãos as empresas multinacionais. Para Milton Santos, elas escapam do controle dos Estados e a distância que acabam alcançando em relação a eles acabando permitindo que tais empresas ajam sem responsabilidade, nem moral, muito menos social. A maior parte da humanidade sente os efeitos da globalização da forma mais perversa por meio do desemprego, aumento da pobreza, falta de moradia, entre outros.

Outro efeito da globalização é a criação das muralhas do capitalismo. Enquanto tais muros permitem a livre circulação de mercadorias, dinheiro e serviços, barram o livre tráfego de indivíduos.

Com relação à mídia, a crítica apresentada se relaciona com a concentração de poder das empresas detentoras de veículos de comunicação, pois apenas seis empresas controlam 90% da mídia mundial. Esse oligopólio faz com que os acontecimentos sejam analisados de acordo com interesses pré-determinados. Grande parte dos economistas que escreve em jornais publica o desejo das empresas das quais são consultores.

Segundo Milton Santos, os atores que vão mudar a história são os de baixo, agindo de baixo para cima, como ocorreu n China.

Outra crítica apresentada por Milton Santos é que “decidimos ser europeus, insistimos em ser europeus, nos recusamos a pensar como nós próprios porque achamos chique pensar como os europeus e os americanos e, por isso, temos uma enorme dificuldade para entender o mundo. Essa dificuldade nos deixa tolos diante da história que está se fazendo”.

A questão da democracia também é tratada. Há a idéia de que as formas tradicionais de democracia já não convencem mais os pobres e muitos consideram que a ação direta nas ruas é o meio de se fazerem ouvir.

Uma das críticas apresentadas ao papel da democracia na globalização é exposta pelo escritor português José Saramago. Segundo ele, discute-se tudo, menos democracia. Continua sendo uma referência, mas já não se espera mudanças por meio dela. Não há a percepção de que a democracia em que se vive é condicionada e amputada em que o poder dos cidadãos se encontra limitado politicamente a tirar e colocar governo de acordo com a preferência. No entanto, as grandes decisões são tomadas em outra esfera de poder (FMI, Banco Mundial, OCDE, OMC, grandes organizações financeiras internacionais.) e nenhum desses organismos apresenta algum grau de democracia. Não se pode falar de democracia se quem realmente tem o poder não é eleito pelo povo.

Por fim, para Milton Santos, o mundo vive uma nova forma de totalitarismo, em que há a exigência de comportamentos padronizados e todo deslize é punido. O mundo espalha a liberdade como o requisito mínimo para a vida, mas ele suprime a verdadeira liberdade. Essa característica do mundo atual alcançará um nível não mais suportável e acabará, como já ocorreu com outras formas de totalitarismo. É a globalização que produz o que ele chama de globalitarismo e este reproduz a globalização. Nas palavras do autor, “esse círculo vicioso precisa ser quebrado através da produção de formas democráticas que sejam realmente democráticas”.

"Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do Lado de Cá", lançamento: 2007 (Brasil), direção: Sílvio Tendler. Atores: Milton Santos, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Maria Auxiliadora, Roberto Lobato Corrêa. Duração: 89 minutos.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Parte II - Etapa 3 a) b) Principais reflexões de Joseph Stiglitz

Segundo Stiglitz (2002, p.30-32) a globalização trouxe vários benefícios para as populações ao redor do mundo, desde o crescimento econômico devido, sobretudo a abertura/liberalização do comércio e dos mercados, passando pelo aumento da expectativa de vida dos povos que foi aumentada até a redução das distâncias/isolamento entre as pessoas e países. No entanto, a globalização também fez aumentar a distância entre ricos e pobres, ou seja, o número de miseráveis no planeta, principalmente em regiões africanas aumentou significativamente.


Na verdade em diversos lugares do mundo o processo da globalização não foi homogêneo nem tão pouco vencedor, muito pelo contrário, como afirma Stiglitz (2002, p.32), pois

Se a globalização não logrou êxito em reduzir a pobreza, também não teve sucesso em garantir a estabilidade [...] A globalização e a introdução de uma economia de mercado não geraram os resultados prometidos na Rússia nem na maior parte das outras economias que fizeram a transição do comunismo para o capitalismo.

Quem lucra com todo este processo de globalização são as economias ricas, pois uma vez alcançado o patamar de industrialização avançado podem dar-se ao luxo de impor agora dificuldades para abrir os seus mercados para os Estados menos desenvolvidos (STIGLITZ, 2002, p.33). De outro modo, a questão que mais é debatida pelo autor é justamente a capacidade das instituições internacionais de responder com eficiência a este processo e a percepção é a de que estas deixam a desejar no desempenho deste papel.

As instituições do Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial são utilizadas pelo autor para embasar os seus argumentos, no caso por terem desempenhado ao longo dos anos papel relevante no cenário econômico/financeiro internacional. Stiglitz é um crítico destas instituições, mais precisamente do FMI, pois os Estados que precisaram deste pagaram um preço muito caro por isso, como a imposição de condicionalidades que muitas vezes era penoso para os mesmos.

Tais instituições criadas na cidade de Bretton Woods no pós Segunda Guerra Mundial sofreram durante a década de1980 uma mudança de pensamento, como salienta Stiglitz (2002, p.36) “A mudança mais drástica nessas instituições ocorreu na década de 1980, época em que Ronald Reagan e Margaret Thatcher pregavam uma ideologia de livre mercado nos Estados Unidos e no Reino Unido. O FMI e o Banco Mundial tornaram-se as novas instituições missionárias, por meio das quais essas idéias era impostas aos relutantes países pobres que, via de regra, precisavam muito de seus empréstimos e concessões”.


Estas instituições falharam no sentido de que não souberam lidar e/ou resolver os problemas enfrentados pelos Estados em desenvolvimento, pior ainda ao intervirem dentro destes quiseram e conseguiram em particular o FMI, impor certas medidas econômicas que acabaram por desestruturar ainda mais o país que necessitava de ajuda.

Um fato em particular que aconteceu em especial na América Latina impondo regras/normas foi o Consenso de Washington, no qual os Estados Unidos, o FMI e o Banco Mundial juntaram-se afim de “ajustar as economias latino-americanas”, sem nem ao menos perguntar se estes países estavam preparados ou ainda se queriam aceitar a “ajuda” destes.

Outro ponto levantado por Stiglitz é que as instituições servem aos interesses dos poderosos, dos mais ricos, dos governos dos Estados desenvolvidos, mas também dos grupos de interesses inerentes a estes, ou seja, “As instituições são controladas não só pelos países industrializados mais ricos do mundo, mas também pelos interesses comerciais e financeiros desses países; as políticas das instituições refletem isso. A seleção das instituições simboliza o problema destas e, muitas vezes, contribui para sua disfunção” (STIGLITZ, 2002, p.46). O autor vai além e diz que o momento atual é de uma governança global sem governo global, no qual algumas instituições dominam o sistema internacional, no caso FMI, Banco Mundial e OMC, e seus respectivos grupos de interesses (STIGLITZ, 2002, p.49).

Questão ainda discutida pelo autor são as condicionalidades que o FMI impunha aos países que necessitassem de sua ajuda, uma de suas desculpas era a de que deveria se ter garantias de que os Estados de fato cumprissem as metas estabelecidas pelo próprio fundo e que aplicassem o dinheiro de forma eficaz.Contudo, “Estudos feitos no Banco Mundial e em outras instituições mostraram não só que a condicional idade não garantia que o dinheiro seria gasto de maneira adequada e que os países cresceriam mais rapidamente, como também que havia pouca evidência de que funcionasse” (STIGLITZ, 2002, p.76).

Por fim, a idéia que fica é a de que os próprios países podem e devem eles mesmos promover as suas reformas políticas/econômicas e mesmo que conte com ajuda externa, no caso o de organismos internacionais que estes possam ter a sensibilidade de procurar saber/conhecer ao país ao qual pretende ajudar, sem medidas gerais para todos os países, pois cada país é único, o que é bom para um Estado, pode não ser tão bom para outro Estado. E Stiglitz (2002, p.79) adverte sobre isso, no tocante principalmente ao FMI, “Há pelo menos duas razões pelas quais o FMI deveria trocar idéias extensamente dentro de um país ao preparar suas avaliações e projetar seus programas. Os habitantes do país provavelmente sabem mais sobre a economia dele que os funcionários do Fundo...”.

Stiglitz, Joseph E. A Globalização e seus malefícios: a promessa não-cumprida de benefícios globais. São Paulo: Futura, 2002.

Parte II - Etapa 2 c) d) e) Os Impactos da Globalização no Regionalismo

Ricardo Carneiro (2008) discute em seu artigo as várias dimensões da integração e suas inter-relações. Primeiro, discute-se os aspectos gerais da inserção na economia global das duas principais regiões periféricas: Ásia em desenvolvimento e América Latina. Em seguida, examina-se o desempenho dessas regiões do ponto de vista do crescimento, tanto na ótica quantitativa quanto qualitativa e por fim, analisa os perfis intra-regionais de integração dessas regiões, estabelecendo-se suas diferenças. Em suma, Carneiro dá grande ênfase aos mútuos condicionantes que se estabelecem entre essas duas dimensões da integração: a global e a regional.

Já Pascal Lamy (2002) tem como tema principal de sua entrevista, duas abordagens: o regionalismo e o multilateralismo no âmbito América Latina e Europa, mais precisamente, MERCOSUL e União Européia. Para ele nem vale a pena tratar do unilateralismo, o qual se tornou uma política insustentável.

Outro ponto discutido na entrevista com Lamy (2002) é a abordagem de dois tipos de modelos fundamentais de regionalismo: o "modelo dos bons vizinhos" no qual o regionalismo está baseado essencialmente na eliminação de entraves nas fronteiras e, a definição de regras comuns que tende limitar-se ao mínimo necessário para assegurar condições de igualdade dos parceiros em termos de trocas comerciais. Neste enquadramento, os membros continuam a sentir-se livres para prosseguir com seu próprio desenvolvimento, cooperando nas questões em relações às quais partilham pontos de vista comuns; e o “modelo da família feliz" onde os países partilham a vontade política de construir uma comunidade e de pôr em comum a sua soberania. Este tipo de regionalismo tende para a integração política, nomeadamente para a criação de um mercado comum, a harmonização de normas e regulamentações, políticas de redistribuição, especialmente quando existem diferenças de desenvolvimento que devem ser atenuadas, ou políticas comuns em determinadas áreas como a da defesa.

Deste segundo modelo decorrem duas conseqüências: em primeiro lugar, o grau de alinhamento das preferências coletivas dos países varia, porém, quanto mais profunda for a integração, mais as preferências coletivas desempenham um papel na eficácia dessa aproximação. Este desenvolvimento revela a necessidade de um elevado grau de confiança entre os Estados, exigindo que os parceiros tenham de lidar com a diversidade. Em segundo lugar, existem grandes diferenças no nível das instituições necessárias para gerir as regras que os membros estabeleceram para si próprios (LAMY, 2002).

Apesar das diferentes abordagens apresentadas, ambos autores acreditam que a globalização trouxe impactos positivos para os processos de integração regional.

Para Carneiro (2008, pp.28-30) no plano intra-regional ficou evidenciado tanto uma maior intensidade como uma melhor qualidade da integração. O peso e a natureza do comércio intra-regional decorrentes de níveis elevados de Ide constituem o principal aspecto do diferencial da integração entre as regiões. No âmbito da infra-estrutura, as diferenças são também marcantes, sobretudo no que tange à capacidade das regiões em ampliar a oferta.

Lamy (2002) atribui que a crescente interdependência entre as economias e sociedades é um aspecto essencialmente positivo, mas ele faz um alerta: trata-se de um aspecto positivo porque essa interdependência significa uma maior eficácia na distribuição dos recursos e um incentivo poderoso para a inovação. Mas apenas se tratar de uma interdependência dirigida, ou seja, acompanhada de ações corretoras, destinadas a evitar que as desigualdades entre nações, e no interior destas, se tornem politicamente e socialmente insustentáveis, e que o crescimento econômico implique no esgotamento dos escassos recursos naturais.

De acordo com Lamy (2002), tudo isto implica procurar estabelecer um equilíbrio entre as forças de mercado, por um lado, e o papel das autoridades públicas e das organizações internacionais no que diz respeito ao fornecimento de bens públicos e à consolidação do Estado de Direito e da boa governança, por outro. Neste sentido, Carneiro (2008, pp. 28-30) complementa apontando para duas variáveis-chaves que podem conduzir a uma melhora do perfil da integração regional: a primeira é condição necessária para a diferenciação da estrutura industrial em direção a setores mais intensivos em tecnologia por meio da atração de Ide e da ampliação da sua dimensão intra-regional. A segunda, além de permitir a redução de custos e de viabilizar a ampliação do comércio intra-regional permitirá a integração de novas áreas produtivas na economia regional.

No entanto, apesar dos autores concordarem que a globalização trás benefícios para os processos de integração regional, percebemos que para Carneiro a integração nos âmbitos global e regional se complementam, já para Lamy o regionalismo tende a reforçar a dimensão da cooperação, enquanto o multilateralismo é necessariamente mais centrado na concorrência.

Carneiro (2008, p.29) conclui que as formas de integração esclarecem algumas questões cruciais sobre o desempenho diferenciado das regiões periféricas no contexto da globalização, mas para entender com maior profundidade as diferenças de desempenho inter e intra-regionais seria imprescindível considerar dimensões domésticas do processo, tais como o momento histórico a partir do qual se realiza a integração e o formato das políticas econômicas postas em prática durante o período. Lamy (2002), por sua vez, defende a idéia de que é necessário ser mais ambicioso tanto em nível bilateral quanto multilateral se quiser consolidar o processo de globalização, isto porque “o processo de globalização nos conduz inexoravelmente a respostas políticas comuns”.

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CARNEIRO, Ricardo. Globalização e Integração Regional. Real Instituto Elcano, Documento de Trabajo nº 43, 2008. Disponível em: http://www.iadb.org/intal/intalcdi/PE/2009/02469.pdf 

LAMY, Pascal. Enfrentar o desafio da globalização: integração regional ou regras multilaterais?. Fundação Getulio Vargas, 2002. Disponível em: http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2004/september/tradoc_118793.pdf

Parte II - Etapa 2 a) b) Globalização e Integração Regional

Resenha do artigo: CARNEIRO, Ricardo. Globalização e Integração Regional. Real Instituto Elcano, Documento de Trabajo nº 43, 2008. Disponível em: http://www.iadb.org/intal/intalcdi/PE/2009/02469.pdf

Segundo Ricardo Carneiro (2008, p.2), “é muito comum se enfatizar a dimensão internacional da integração e menos a regional”. Mas ele apresenta no texto que em princípio as duas dimensões da integração podem se auto- reforçar, ou seja, o adensamento das relações intra-regionais pode reforçar a inserção internacional dos diversos países, ampliando o seu dinamismo.

Por exemplo, as economias regionais que desfrutam desse processo de integração são beneficiadas por uma dupla força dinâmica: a oriunda dos mercados globais (dimensão internacional) e aquelas decorrentes dos mercados intra-regionais (dimensão regional).

O texto, portanto, defende a relevância de não se considerar apenas o internacional, mas também de considerar dimensões domésticas do processo, tais como o momento histórico a partir do qual se realiza a integração e, não menos importante, o formato das políticas econômicas postas em prática durante o período. Sendo assim, torna-se possível constatar as diferenças existentes entra ambas as dimensões de integração, internacional e regional, e então explicar o porquê que em determinados setores – indústria, do ponto de vista estratégico, etc.- uma dimensão se sobressai da outra.

A primeira interpretação que Ricardo Carneiro utiliza para tratar de tais diferenças é a de Obstfeld e Taylor. Tais autores defendem que a globalização contemporânea teria como principal característica a significativa diferença entre os fluxos de capitais brutos e líquidos, com um peso desproporcional dos primeiros ante os segundos. Isto revelaria o porquê da principal motivação, por parte dos países centrais, na diversificação dos portfólios ante a constituição de ativos líquidos no exterior (2008, p.3). Eles também afirmam que o grande influxo durante o padrão-ouro deveu-se à importância de nações com populações escassas e grandes extensões territoriais, receptoras de migração européia e com tradição jurídica anglo-saxã, de forte compromisso com a proteção da propriedade privada. A inexistência ou perda de relevância desses países no mundo contemporâneo explicaria o declínio relativo dos fluxos de capitais em direção à periferia.

Por fim, para Obstfeld e Taylor, o regime cambial predominante na etapa da globalização é o do câmbio flutuante, em contraste com o padrão-ouro, durante o qual vigia o regime de câmbio fixo. Pois, diante das características dos fluxos de capitais nos dois momentos históricos — padrão-ouro e globalização —, uma hipótese mais plausível é a de que o regime cambial reflita a natureza e a composição desses fluxos. Se eles são multidirecionais e visam diversificar portfólios, não há incompatibilidade com o regime de câmbio flutuante (2008, p.4).

Outra visão que Ricardo Carneiro apresenta para avaliar o processo de globalização entre os países centrais, principalmente nos anos 1980, é a do autor Turner, o qual agrega outras características: o predomínio das transações entre desenvolvidos, a proximidade entre transações brutas e líquidas e a maior importância das operações com títulos ante os empréstimos (2008, p.4).

Sobre a dimensão produtiva da globalização, o texto sugere a análise de Dunning, que propõe a idéia de que a principal força motriz é a intensificação do progresso técnico que reduz os ciclos de produto e amplia os custos de P&D, forçando as empresas a uma redução do escopo da produção por meio da especialização no “core” produtivo e à busca de mercados mais amplos (2008, p.4-5).

De acordo com Ricardo Carneiro (2008, p.5), na dimensão produtiva da globalização é possível encontrar outras particularidades. Ela implica uma modificação da divisão internacional do trabalho em moldes distintos daquele observado durante o período de Bretton Woods. Para ele, nesta fase do desenvolvimento capitalista, o padrão de concorrência levava as empresas a buscarem mercados adicionais, se transplantando de maneira integral para os países da periferia. Portanto, nesse caso a restrição para implantação dessas empresas residia no tamanho do mercado, “vis a vis a escala de produção mínima, e no grau de complexidade tecnológica”. A globalização muda o perfil de concorrência e as empresas se deslocam em função do desmembramento de atividades com preservação do “core business” nos países centrais.

Outro ponto importante tratado no texto de Ricardo Carneiro são os padrões de integração global entre Ásia e a América Latina. Nesta discussão das novas modalidades de integração da periferia à economia global, ele utiliza autores como Dooley; Folkert-Landau e Garber, os quais sugerem a existência de duas formas principais, denominadas respectivamente de “trade account” e “capital accoun”t. A primeira diria respeito, principalmente, aos países da Ásia em desenvolvimento e se caracterizaria por privilegiar a articulação via fluxos de comércio e de Ide, e na segunda – capital account- prevaleceria a integração por meio dos fluxos de capitais e Ide de natureza patrimonial.

Portanto, o desempenho desigual do Ide, nas duas regiões periféricas, suscita uma breve reflexão sobre as suas razões. Conforme sugerido por Carneiro (2008, p.15), a causa essencial dessa diferença reside nos distintos padrões de integração da periferia à economia globalizada, com destaque para aquele da Ásia que se dá predominantemente via fluxos de comércio e Ide, e aquele da América Latina que ocorre prioritariamente via fluxos financeiros e com peso mais expressivo do Ide patrimonial.

Sobre os padrões de integração e desempenho o autor utiliza informações da Unctad, ano 2003, dizendo que países periféricos logram o desenvolvimento das forças produtivas por meio da industrialização, entendida esta última como um processo de diversificação setorial e de adensamento das cadeias produtivas. Ele ainda propõe que, se surgirem problemas recorrentes de restrição de divisas, esses países devem ampliar a participação das exportações de manufaturados no PIB em simultâneo com o aumento do emprego industrial no total da ocupação. Segundo Ricardo Carneiro (2008, p. 16), esse foi, e continua sendo, pelo menos para os países periféricos exitosos, o mecanismo por excelência do crescimento sustentado.

“O desenvolvimento suporia a criação de vantagens comparativas dinâmicas em contraposição às estáticas. Os casos de maior êxito seriam aqueles nos quais parte-se das vantagens estáticas por meio da participação nas cadeias globais de valor, inicialmente nos segmentos de maiores vantagens comparativas, intensivos em recursos naturais ou força de trabalho. Ao longo do tempo, a construção de cadeias produtivas mais densas e a implantação de novos setores vão deslocando as vantagens comparativas para áreas de maior complexidade tecnológica. Em simultâneo, o dinamismo inicial muito concentrado nos mercados externos e nas exportações vai se transferindo para os mercados criados pelos encadeamentos da estrutura produtiva doméstica” (2008, p.17).

E por fim, o texto trata dos padrões de integração intra-regional, Ásia e América Latina, cujas diferenças entre as duas principais regiões periféricas são marcantes não só quanto ao padrão de integração na economia global, mas também pelos distintos perfis de integração regional. Utilizando dados da Cepal, ano 2006, Ricardo Carneiro verifica que uma das características proeminentes da Ásia em desenvolvimento é a crescente integração intra-industrial regional que foi realizada ao longo do tempo pelas empresas do exterior, e da região, por meio do Ide. Essa integração se fez com o desmembramento da cadeia produtiva industrial conduzindo a uma intensificação do comércio intra-regional, cujo fundamento é, portanto, o comércio intra-industrial e mesmo intra-empresa. Segundo o autor, esse perfil de integração regional comandado pelo Ide foi muito menos intenso na América Latina (2008, p.20).

Sendo assim, o texto conclui que do ponto de vista estratégico há duas variáveis-chaves que podem conduzir a uma melhora do perfil da integração regional na América do Sul e sem as quais as iniciativas particulares perdem densidade, seriam: a manutenção de taxas de câmbio reais em patamares adequados e com baixa volatilidade, e a ampliação do investimento público em infra-estrutura em cada país. De acordo com Ricardo Carneiro, a primeira é condição necessária para a diferenciação da estrutura industrial em direção a setores mais intensivos em tecnologia por meio da atração de Ide e da ampliação da sua dimensão intra-regional. A segunda, além de permitir a redução de custos e de viabilizar a ampliação do comércio intra-regional permitirá a integração de novas áreas produtivas na economia regional (2008, p.29).

Dessa maneira, a constatação de uma forte divergência das regiões em termos de crescimento econômico indica a sua relação privilegiada com a forma de integração. Todavia, o foco nas formas de integração esclarece algumas questões cruciais sobre o desempenho diferenciado das regiões periféricas no contexto da globalização, mas não dá conta da integralidade das suas determinações. Para tal, seria imprescindível considerar dimensões domésticas do processo, tais como o momento histórico a partir do qual se realiza a integração e, não menos importante, o formato das políticas econômicas postas em prática durante o período. Estas considerações certamente esclareceriam com maior profundidade as diferenças de performance inter e intra-regionais (2008, p.29).

Parte II - Etapa 1 d) e) Impactos do avanço tecnológico na sociedade contemporânea

Como pensar a política internacional considerando as consequências da revolução informacional? Qual o impacto deste processo nos Estados Nacionais?

Tendo como base os textos utilizados anteriormente, e também algumas notícias coletadas a respeito do avanço tecnológico e o impacto que eles causam na sociedade contemporânea, podemos verificar que o Estado Nacional está intrinsecamente ligado à esta questão. Como afirmou Castells, é devido principalmente à intervenção estatal que a sociedade pode entrar num processo acelerado de modernização tecnológica capaz de mudar o destino das economias, do poder militar e do bem-estar social em poucos anos. (1999, p.43-44) Nessa mesma linha de pensamento, temos uma afirmação do Primeiro Ministro português, de que “uma rápida mudança na inovação, ciência e tecnologia só é possível com uma concertação estratégica entre Estado e empresas, entre Estado e mercado. Ele também disse que a inovação e o desenvolvimento tecnológico devem ser “uma das prioridades das políticas públicas e empresariais”, uma vez que “ninguém melhora a competitividade da sua economia, ninguém acrescenta mais valor aos produtos que produz, ninguém melhora a sua posição na economia global se não elevar também o seu ensino de excelência, virado para o conhecimento científico”. (Governo de Portugal, 2010)
Da mesma forma, podemos usar uma citação de outra notícia, na qual Ilan Goldman afirma que “o governo é um grande alavancador de trabalhos na área de TI no Brasil, na medida em que é um demandador de tarefas que têm de ser cumpridas pelo setor”. (Agência Brasil, 2010)
Nessa mesma notícia, podemos notar algumas consequências da revolução informacional na política internacional, quando o autor afirma que “o mercado mundial, cada vez mais interligado, oferece perspectivas favoráveis à exportação de produtos brasileiros de tecnologia da informação (TI)”, mas, ao mesmo tempo, ele afirma que “nesse ambiente cada vez mais globalizado, as empresas brasileiras precisam deter de fato essas tecnologias avançadas, ou seja, trazer uma novidade”. (Agência Brasil, 2010)
Para complementar a notícia da Agência Brasil (2010), podemos utilizar o argumento de Gorender (2007, s/p) que afirma que as empresas transnacionais continuam mantendo vínculos com os seus Estados Nacionais, então a atuação do Estado, tanto no âmbito econômico quanto no tecnológico, ainda é de extrema importância para a ascensão dessas empresas, que influenciam na política internacional dos seus respectivos Estados.
As EMs constituem uma questão de política internacional para todo Estado nacional onde tenham sua matriz (e certamente, não menos, porém de forma inversa, para os Estados onde estejam suas subsidiárias). Quando a matriz se situa em país dotado de amplo mercado interno, a EM tem nele suporte fundamental, um ponto de apoio da expansão globalizante.” (GORENDER, 2007, s/p).
Outras consequências das inovações tecnológicas e da globalização, de um modo geral, pode ser percebido no texto de Carlos José Pedrosa, A farsa da globalização, onde ele faz a seguinte afirmação: “Começando pelos países do primeiro mundo, vemos que nem eles praticam, realmente, o livre comércio, gradativamente substituído pelo protecionismo disfarçado. Os países ricos insistem que os países pobres, também chamados de países em desenvolvimento, devem aderir ao livre comércio e abrir seus mercados para os produtos dos países ricos. Aí está a armadilha. Enquanto insistem nessa abertura, adotam uma política protecionista, criando barreiras à entrada dos produtos do terceiro mundo.” E ele ainda completa com uma análise sobre a globalização, onde ele diz que “entende-se a globalização como integração econômica, numa base de cooperação e troca, havendo reciprocidade na distribuição dos benefícios do progresso e da tecnologia. No entanto, a globalização, como está sendo praticada pelos países industrializados – diga-se países ricos – não tem o objetivo de levar a todos os países os benefícios do desenvolvimento, acelerar o progresso de cada país ou gerar o bem-estar das populações, o que seria até aceitável e benéfico. (PEDROSA, 2010) Aqui, pode ser feito um link com a segunda advertência dada por Postman, onde ele diz que “as vantagens e desvantagens das novas tecnologias nunca são distribuídas equitativamente entre a população”, (POSTMAN, 2004, s/p) e, da mesma forma, os impactos deixados pelo avanço tecnológico, sendo eles positivos ou negativos, também não são divididos harmonicamente entre todos os Estados.
A globalização não objetiva desenvolver todos os países, não existe uma distribuição equitativa dos seus benefícios, o que acentua a desigualdade, como afirma Postman. Podemos confirmar essa afirmação através do argumento de Gorender (2007, s/p), que afirma: “por si mesma, a economia globalizada impede, a longo prazo, o ascenso de todos ao mesmo tempo.” (GORENDER, 2007, s/p), o que afirma a citação de Postman, pois segundo Gorender a lógica da globalização é a desigualdade, dos perdedores em contrapartida aos vencedores.
O que se indaga é se tal curso pode ser revertido, se a espontaneidade da globalização pode ser submetida a determinado controle eficiente, sem que se percam as conquistas positivas que vieram com ela.” (GORENDER, 2007, s/p).
Nessa sequência, a terceira advertência de Postman é que “qualquer tecnologia tem seu prejuízo”. (POSTMAN, 2004, s/p) E, então, podemos utilizar a notícia escrita por Daniel Oliveira para reafirmar isso, quando ele diz que “ligada em rede, a comunidade global pode dividir conhecimento, arte, tecnologia. Mas também a tragédia e as desgraças. As cinzas islandesas podem falir empresas, assim como o incumprimento bancário de proprietários de casas nos Estados Unidos pode arrebentar com a economia mundial. Potencialmente, tudo afeta toda a gente.” E ele mesmo faz uma advertência:não deixar que nenhuma tecnologia domine todos os aspectos da nossa vida (…) ou seja, a imprevisibilidade dos tempos de modernos, que resulta da globalização e da tecnologia, obriga a não abandonarmos totalmente os instrumentos dos velhos tempos.” (OLIVEIRA, 2010)
Gorender considera as vantagens do avanço tecnológico para as empresas transnacionais, e a revolução informacional trouxe diversos benefícios devido a velocidade das informações em rede. As novas tecnologias de computação e de telecomunicação permitem que os produtos sejam resultado de operações efetivadas em diferentes países e mesmo continentes, vinculadas em tempo real. Tal possibilidade incrementou a capacidade de expansão das empresas multinacionais (EMs), dando-lhes agilidade a fim de localizar suas operações nos pontos mais vantajosos sob os aspectos de custo e de mercado.” (GORENDER, 2007, s/p).

Textos e notícias:
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo, Paz e Terra, 1999. 


POSTMAN, Neil, Las 5 advertencias del cambio tecnologico. 2004. Disponível em: http://www.globalizacion.org/desarrollo/PostmanCambioTecnologico.htm

PEDROSA, Carlos José. A farsa da globalização. 2010. Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/a-farsa-da-globalizacao/44624/

OLIVEIRA, Daniel. O efeito borboleta. 2010. Disponível em: http://aeiou.expresso.pt/o-efeito-borboleta=f577294

GOVERNO DE PORTUGAL. Não há sucesso econômico sem inovação, tecnologia e conhecimento. 2010. Disponível em: http://www.governo.gov.pt/pt/GC18/PrimeiroMinistro/Noticias/Pages/20100516 _PM_Not_America_Latina.aspx


GORENDER, Jacob. Globalização, tecnologia e relações de trabalho. Estud. av., São Paulo, v. 11, n. 29, 1997. Disponivel em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010340141997000100017 &script=sci_arttext&tlng=en

AGÊNCIA BRASIL. TI no Brasil vence desconfianças e mira mercado globalizado. 2010. Disponível em: http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/tecnologia/noticia/2010/05/15/ti-no-brasil-vence-desconfiancas-e-mira-mercado-globalizado-221957.php

BORGES, Karine. Sistemas de informação e sociedade: Transformações sociais aceleradas. A sociedade está preparada para tais transformações?. 2010. Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/sistemas-de-informacao-e-sociedade/44922/