GLOBALISMO, GLOBALIDADE OU GLOBALIZAÇÃO?

O que globalizou foi o fenômino do Estado-Nação. Agora tem Estado Nacional para todos os lados. No início do século XX, eram 60 países, no máximo. Agora tem 200 Estados. O capital, quanto mais fortalece e expande, mais fica nacionalista.

(José Luis Fiori)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Parte II - Etapa 1 c) Principais tópicos discutidos nos artigos: “Globalização, tecnologia e relações de trabalho” e “Las 5 Advertencias Del Cambio Tecnologico”

Jacob Gorender define a globalização como uma intensa aceleração dos processos de internacionalização e mundialização, pois hoje em dia as economias nacionais recebem interferências das forças transnacionais. As leis do modo de produção capitalista determinam a financeirização e a mercantilização de todas as relações econômicas e sociais do Sistema Internacional, e essas relações sofreram muitas alterações ao longo dos anos. E uma das principais alterações dessas relações foi a passagem do regime fordista ao regime de produção enxuta (lean production).
O Fordismo surgiu como uma nova alternativa para a organização do trabalho, visando alcançar um maior volume de produção a preços reduzidos, então o regime fordista adotou o sistema criado por Frederick Taylor, que fazia a separação entre trabalho manual e trabalho intelectual. Com a aplicação do regime fordista, o automóvel teve seu custo de produção reduzido e passou a ser uma mercadoria mais acessível.
Contudo, à altura da década de 70, após cerca de 30 anos, hoje qualificados de gloriosos, o regime fordista-keynesiano já evidenciava com muita clareza seus pontos fracos, traduzidos no acúmulo de deficiências. Em primeiro lugar, chamava a atenção a desmotivação dos operários, manifestada em altos índices de abandono do trabalho e rotatividade no emprego, no absenteísmo elevado, no alcoolismo, no fraco empenho nas tarefas.” (GORENDER, 2007 s/p).
Com as insuficiências do modelo fordista, a indústria japonesa entrou em cena para intensificar a concorrência no setor automobilístico, e com isso o fordismo é colocado em xeque.
Nos termos da teoria da regulação, cabe inferir que o regime de regulação fordista-keynesiano do modo de produção capitalista entrou em crise na década de 70 e foi substituído por outro, o qual trouxe consigo a mudança do regime de desenvolvimento e do regime de acumulação. Esta transformação no sistema capitalista mundial abrange o Estado, as inovações tecnológicas, as políticas financeiras e industriais, o comércio mundial, as empresas multinacionais, as relações internacionais, a organização do trabalho, as formas de emprego e desemprego, as ideologias, os estilos de vida e os comportamentos individuais, com efeitos sobre a luta de classes.” (GORENDER, 2007, s/p).
O toyotismo surgiu no Japão, modelo muito diferente do fordista, pois dava importância às equipes de trabalho – células de produção, havia uma flexibilização do trabalho e os funcionários deveriam ser polivalentes, tendo o conhecimento de vários oficios. Com a aplicação do toyotismo houve uma mudança na organização do trabalho e nas relações das empresas com os trabalhadores e seus sindicatos. Segundo Jacob Gorender, a organização japonesa do trabalho (toyotismo) um dos elementos concretos do processo de globalização capitalista, pois ocorreu uma difusão desse modelo de organização em diversos países devido ao seu nível de desenvolvimento econômico.
No quadro de referência da globalização, as relações de trabalho sofrem de instabilidade acentuada. A introdução da organização japonesa tem permitido a imposição pelas empresas da intensificação do trabalho, potenciada pelo alto grau de desemprego e pelo acirramento da concorrência.” (GORENDER, 2007, s/p).
De acordo com Gorender, o processo de globalização trouxe alterações no âmbito da produção, nas relações de trabalho, no comércio, vida social, etc. A Revolução tecnológica trouxe novas formas de produção, pesquisa e desenvolvimento para as empresas, e com a implementação dessa tecnologia se tornou necessário cada vez mais qualificação por parte dos funcionários, e isso gera o desemprego estrutural. Com a inovação tecnológica e a automação e robotização de diversas funções, ocorre desemprego. O autor também aponta a política deflacionária como um fator importante que gera desemprego.
Não há escape de nós mesmos. O dilema humano continua sendo o que era, e é um engano crer que as mudanças tecnológicas da nossa era vão tornar inúteis a sabedoria milenar e os sábios.” (POSTMAN, 2004, s/p) Com essas palavras, Neil Postman começa sua reflexão a respeito das mudanças tecnológicas e os efeitos da tecnologia sobre o nosso espírito. Ele sintetiza seu pensamento no que ele chama de 5 advertências.
A primeira advertência é que “toda mudança tecnológica implica um compromisso”. Ou seja, qualquer vantagem que a tecnologia venha a oferecer, acarretará em uma desvantagem correspondente. O autor afirma ser surpreendente a quantidade de pessoas que crêem que as novas tecnologias “são como uma bênção do céu”. (POSTMAN, 2004, s/p) É preciso pensarmos melhor no que consideramos benefícios das inovações tecnológicas, uma vez que elas podem tornarem-se, no futuro, um problema a ser resolvido. Sintetizando, a “primeira advertência é que a cultura paga um preço pela tecnologia que incorpora”.
A segunda advertência está ligada à primeira, e diz que “as vantagens e desvantagens das novas tecnologias nunca são distribuídas equitativamente entre a população”. Ao mesmo tempo em que beneficia alguns (poucos), acaba prejudicando outros, ou, até mesmo não afetando de forma alguma a vida de outros que são completamente excluídos desse processo. Postman diz que, quem realmente se preocupa com as mudanças tecnológicas está preocupado com as seguintes perguntas: “Quem vai beneficiar-se do desenvolvimento desta nova tecnologia? Que grupo, que tipo de pessoas, que tipo de indústria vai ser favorecida? Quais grupos de pessoas serão prejudicados?” (POSTMAN, 2004, s/p)
A terceira advertência é que “qualquer tecnologia tem seu prejuízo”. Por isso, o autor explica que toda tecnologia nos afeta de alguma forma, e o importante é saber em que medida ela muda o nosso mundo, quais dos nossos sentidos se amplificam e quais das nossas emoções e tendências intelectuais são afetadas negativamente.
A quarta advertência é a seguinte: “a mudança tecnológica não é aditiva, e sim ecológica”. A explicação para essa afirmação é feita através de uma analogia. O autor pergunta o que ocorre se jogarmos uma gota de tinta vermelha em uma jarra de água transparente? “Teremos água transparente ou água clara com uma gota de tinta vermelha? Obviamente nenhuma das duas. Teremos uma nova coloração em todas as moléculas de água contidas na jarra.” Isso significa que, depois que uma tecnologia é criada, não há como voltar atrás e também não há como impedir sua dissipação. Suas conseqüências são sempre amplas e, em sua maior parte irreversíveis. (POSTMAN, 2004, s/p)
A quinta e última advertência é a de que “tendemos a fazer dos meios um mito”. Postman explica melhor sua afirmação dizendo que tratamos as inovações tecnológicas como se fossem criações divinas. Para o autor, o problema é que quando algo é considerado divino, não está facilmente sucessível a modificação ou controle. Segundo ele, “a melhor maneira de ver a tecnologia é como um intruso estranho, lembrando que a tecnologia não é parte de um plano divino e sim o produto da criatividade humana”. (POSTMAN, 2004, s/p)



GORENDER, Jacob. Globalização, tecnologia e relações de trabalho. Estud. av., São Paulo, v. 11, n. 29, 1997. Disponivel em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010340141997000100017 &script=sci_arttext&tlng=en

POSTMAN, Neil. Las 5 Advertencias Del Cambio Tecnologico. 2004. Disponivel em: http://www.globalizacion.org/desarrollo/PostmanCambioTecnologico.htm

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